.gif)
Essa postagem é uma crônica de um livro que estou lendo atualmente, achei bem interessante, compartilho-a, transcrevendo-a na íntegra para vocês...
O amor causa-me horror, diz Fernando Pessoa em seu poema "Da falência do prazer e do amor" e explica em belos versos que detesta a idéia de abrir seu ser a alguém, de entregar-se e permitir que alguém lhe perscrute os recatos, de viver a intimidade."Pensar em dizer amo-te(...), me angustia..."
Essa angústia, esse negar-se ao amor não são anomalia; são, eles também, arte do amor. Só quem conhece a força avassaladora do amor, sua capacidade de virar uma vida de ponta-cabeça, pode ter-lhe tamanho medo. E mesmo aquele que não quer amar atrai amores apaixonados, que buscam afirmação na derrubada da sua fortaleza.
O amor é tudo, é querer e não querer. Quanto mais se exige do amor, como estamos exigindo agora, tanto mais se acirra a resistência dos que relutam em se entregar. O número dos que não sabem amar não aumentou, de fato, como demonstram as estatísticas de casamentos e de convivência amorosa. Aumentou a medida do amor que se exige. Aqueles que só sabem amar de leve e que antes eram considerados válidos no mercado amoroso, hoje, com o embandeiramento público e privado do amor, são considerados insuficientes e contabilizados entre os despossuídos de coração.
O amor não é um mico-leão-dourado. Nenhum indicador nos leva a suspeitar sua possível extinção. Seu habitat (corpo), mente e coração humanos, não está ainda ameaçado. Como um mico , talvez, está mudando o pêlo, modificando um pouco suas feições para adaptar-se às circunstâncias. Exatamente como vem fazendo desde o início.
Pois a respeito do amor só há uma certeza, ele é sempre outro, e sempre o mesmo.
"Os últimos lírios no estojo da vida"
Crônicas ilustradas
Marina Colassanti
Editora Leitura - Páginas 79/80