Prometo voltar em 2012 com mais disponibilidade para interagir com vocês, visitando e comentando nos blogs, atividade que amo fazer mas por motivos alheios a minha vontade não estou conseguindo realizar.
Um 2012 repleto de realizações, novos projetos e que consigamos realizar os projetos que por algum motivo ficará pendente.
Um grande abraço! Fiquem com Deus!!!
Que Natal podemos celebrar sob o abatimento que se estabeleceu nas consciências humanas devido ao terrorismo fundamentalista e o terrorismo da guerra que o Ocidente leva ao Afeganistão? Não será o Natal do lirismo tradicional, reforçado pela propaganda comercial. Será outro, mas, quem sabe, mais próximo ao Natal histórico do Filho de Deus nascido em terra dos atuais palestinos em Belém.
Jesus nasceu fora de casa, entre animais, numa manjedoura "porque não havia lugar para sua família na estalagem".
O evangelista João diz com infinita tristeza: "veio para o que era seu e os seus não o receberam". Desde o início está definida sua missão: estar do lado dos sem terra, sem teto, dos sem lugar social. A eles dirige primeiramente sua mensagem. Identifica-se com eles, como se diz na parábola do juizo final. Do ventre dos pobres Jesus continua nascendo, o libertador das gentes. Eles são a manjedoura onde ele repousa permanentemente.
Eles possuem muitos rostos ontem e hoje.
Em nosso pais são milhões de crianças abandonadas, tantas quantas toda a população da América Central. São os 52 milhões que passam fome. São os sofredores de rua, pivetes que sobrevivem de pequenos furtos. São as milhões de meninas que se prostituem para ajudar em casa. São cerca de 40 milhões de negros que carregam no corpo e na alma o estigma da discriminação. São os sobreviventes indígenas expulsos das terras que sempre foram suas. São os milhões de sem-terra que, como Abraãos, andam por aí errantes em busca de terra para morar e trabalhar.
São os operários empobrecidos, que se julgam ainda privilegiados por ser explorados pelo sistema do capital a preço de uma carteira de trabalho assinada e dos parcos benefícios da previdência social.
São todos esses, tidos por zeros econômicos, os esquecidos de nossa memória nacional, que são os irmãos e as irmãs mais pequeninos do Filho de Deus, encarnado em nossa miséria. Eles gritam: "Queremos viver. Queremos ser gente. Nós também somos filhos e filhas de Deus. Até quando, Senhor, até quando nos fazes esperar a tua vinda e, com ela, a tua justiça, a tua ternura, a tua paz"?
No Natal este lamento lancinante foi escutado. Deus deixa sua luz inacessível e seu mistério sacrossanto e vem morar no meio dos humilhados e ofendidos. Fez-se criança que choraminga entre o boi e o asno. E lhes faz entender:
- "Vocês são meus irmãos e irmãs, filhos e filhas do Pai querido. Quero ser para vocês o Emanuel, o Deus conosco. Eu enxugarei todas as lágrimas de seus olhos. Serei a vida e o direito que buscam. Meu nome é Jesus, o Deus-libertador, alegria para todo o povo". Passei por Belém de Judá e ouvi um sussurro terno. Era a voz de Maria embalando o filhinho:" Sol, meu filho, como posso cobrir-te de panos? Como vou amamentar-te, tu, que nutres a toda criatura"?
E José, perplexo, exclamava: "Como pode? Como pode ter forma de criança aquele que deu forma a todos os seres? Como pode fazer-se pequeno na Terra quem é grande no Céu? Como pode o estábulo conter aquele que contém todo o universo? Como podem seus bracinhos estarem enfaixados, se seu braço governa a Terra e o Céu? Como pode"? Eis que apareceram no presépio "a bondade e o amor humanitário de nosso Deus". Agora não se trata mais do Deus de quem se dizia: Grande é o nosso Deus, infinito o seu poder. Agora vale: Pequeno é o nosso Deus, infinito é o seu amor. Ele não temeu a matéria. Revestiu-se dela. Não receou a condição humana, por vezes trágica e sob muitos aspectos, absurda. Entrou inteiro nela para nunca mais sair dela.
Por isso, apesar das tribulções e angústias do tempo presente podemos ainda celebrar, reunir a família, tomar a ceia e trocarmos presentes. Para milhares, por causa da solidariedade humanitária, haverá comida na mesa e alegria nos olhos. Irmãos e irmãs, nesse dia olhemos para nossos morros, para nossos pobres na rua. Olhemos fundo: eles estão grávidos de Jesus Cristo que suplica nascer de novo mediante a solidariedade, a compaixão e a fraternura.
De nada vale Jesus nascer em Belém
Se não nascer em ti de novo.
Não o busques no além.
Faça-o nascer do povo.
Leonardo Boff
Teólogo, escritor e professor universitário brasileiro, notável integrante da Teologia da Libertação, lecionou Teologia e Espiritualidade em diversos centros de estudo e Universidades do Brasil e do exterior. Foi professor-visitante nas universidades de Lisboa (Portugal), Salamanca (Espanha), Harvard (EUA), Basel (Suíça) e Heidelberg (Alemanha).
Mesmo fora da Igreja ele prossegue incansável em sua batalha na Teologia da Libertação, como escritor, professor e palestrista em nosso país e no exterior, nas esferas da Ética, da Ecologia e da Espiritualidade, atuando como assessor do MST e das Comunidades Eclesiais de Base. Boff também trabalha para a vitória do ecumenismo, ou seja, pela união de todas as religiões. Aposentou-se como professor adjunto de Ética, Filosofia da Religião e Ecologia na Universidade do Rio de Janeiro. Atualmente ele viaja pelo Brasil realizando palestras sobre o conteúdo de sua obra, hoje composta por ficções e ensaios teológicos, espirituais, filosóficos, antropológicos e místicos, que somam mais de 60 livros, grande parte dela editada fora do Brasil. Sua publicação mais conhecida é A Águia e a Galinha. No dia 8 de dezembro de 2001 ele recebeu o Prêmio Nobel alternativo.